quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Sexualidade e deficiência


Em 17 de setembro de 2012,            
participei como palestrante da
“II Jornada Científica
Doenças Neuromusculares em discussão.”

Mesa 5: Vivendo a vida –
Sexualidade e deficiência.

Evento realizado no Salão da OAB/RJ –
Av. Marechal Câmara, 150.

Coordenação do evento: ACADIM
Associação Carioca de Distrofia Muscular

O objetivo central foi de focar um novo olhar para a discussão da sexualidade dos portadores de necessidades especiais, mostrando que a sexualidade faz parte da vida de qualquer ser humano, seja uma pessoa com deficiência ou não. Indo além do sexo, que é apenas seu componente biológico.

A sociedade ainda tem um olhar equivocado da sexualidade via processo repressivo cultural/dogmático, deflagrando os problemas psicológicos como afirmou Freud no século XIX.

Assinalamos que a repressão constrói os mitos sexuais, prejudicando os indivíduos por se basearem em falsas interpretações ou em preconceitos do funcionamento sexual de homens e de mulheres, quando uma expectativa não é cumprida, via relação sexual, podendo levar as pessoas a acreditarem na existência de tais ditos problemas sexuais.


 Principais mitos.

- Há uma ideia geral de que pessoas com deficiências são assexuadas e isso está diretamente relacionado com a crença de que essas pessoas são dependentes e infantis e, portanto, não seriam capazes de usufruir uma vida sexual adulta.

Não se estimulam os programas de orientação/educação sexual porque se entende que nem seria preciso falar sobre sexo àqueles que são assexuados.

- Pessoas acreditarem que a sexualidade dos portadores de necessidade é exagerada.
Desse modo o desejo, fantasia, erotismo que é normal em todo ser humano, aparece como diferenciado e exagerado pela sua exteriorização inadequada.
Ainda associamos o sexo funcional e normal ao padrão corporal e que outra expressão sexual que não seja sob esses padrões pode tornar a sexualidade desviante, patológica ou desnecessária. Do mesmo modo, aqueles que têm deficiência e insistem em expressar seus desejos sexuais são tomados como pervertidos ou atípicos.

A falta dessas informações ou omissão da visão holística da sexualidade aos portadores de necessidades especiais (e aos ditos normais) torna as pessoas vulneráveis ao contágio de doenças sexualmente transmissíveis ou ao envolvimento em crimes sexuais. 

- Pessoas com deficiência são pouco atraentes, indesejáveis e incapazes de conquistar um parceiro amoroso e manter um vínculo estável de relacionamento amoroso sexual.

Dificuldades de relacionamento amoroso existem para deficientes e não deficientes. A deficiência pode representar um estigma que prejudica a imagem para o outro (a), mas não impede a pessoa de encontrar alguém para amar e ser amado. Esquece-se que a pessoa é, antes de tudo, um ser humano e que a deficiência é incorporada a identidade pessoal. Não se ama a deficiência, mas o sujeito com a deficiência. 



Os membros familiares também são atingidos pelos preconceitos sociais que tangem as pessoas com deficiências. Todavia, as próprias famílias costumam questionar se é possível alguém não-deficiente se apaixonar e viver uma relação amorosa e sexual com o deficiente, esperam encontrar um par amoroso igualmente deficiente como seu ente querido. Por outro lado, a família pode desejar que seus ente queridos com deficiência namorem e se casem com não-deficientes visando aproximá-los de uma condição normal.
Em ambos os casos, o preconceito fica evidente.
Não perguntam ao portador de necessidades quem lhe fará feliz.

- Pessoas com deficiência não conseguem usufruir o sexo normal/espontâneo, que envolve penetração seguido de orgasmo.

A deficiência pode até comprometer alguma fase da resposta sexual, mas isso não impede a pessoa de ter sexualidade e de vivê-la prazerosamente. Afinal o planeta terra tem como característica uma grande diversidade e entre elas está à sexualidade e suas múltiplas ações prazerosas. 


Os mitos, portanto, têm sido usados para justificar a segregação de pessoas com deficiências na sociedade.

Esclarecer e refletir sobre questões do preconceito que se relacionam ao corpo com deficiência, sobre os limites subjetivos e objetivos para viver e expressar a afetividade e a sexualidade, a partir de uma leitura social e cultural da deficiência e da sexualidade, parece ser um caminho promissor para contribuir na superação da discriminação social e sexual que prejudica os ideais da sociedade inclusiva.

Com certeza o Estudo da Sexualidade nas escolas será de grande valia na desconstrução dos mitos, proporcionando uma melhor qualidade de vida, via autoestima.